segunda-feira, 23 de setembro de 2013

NOSSOS ANJOS.



O anjo protetor sentado no canto da minha sala é o mesmo que espera Suzi, a prostituta, deixar seu trabalho no Golden Saloon – um night club numa estrada de terra que liga qualquer lugar a lugar nenhum. Este milagre da onipresença só pode ser compreendido dentro do caráter ficcional das crenças que nos confortam. Não importa a verdade aqui. Importa que a vida comporta a morte e apenas isto é o bastante para que desconfiemos da nossa autossuficiência. 
Suzi e eu somos diferentes. Ela aprendeu na carne – de forma literal e figurativa – a capacidade humana de impor ao seu semelhante uma forma abjeta de luta pela vida. 
Eu escrevo textos para uma revista de variedades e a minha função é tornar glamorosa e bem sucedida a vida de Suzi, para que durmamos em paz sob o olhar do anjo que guarda a nós todos. Não importa que Suzi esteja estragada para a vida aos 26 anos no quarto imundo de um bar para machos, em algum lugar do sudoeste. O que interessa é que eu e Suzi vivemos sob a vigília do mesmo anjo. Saber se a conta vai fechar no final é o mistério que me amedronta. E para o qual, Suzi não está nem aí.  

Nenhum comentário: