O anjo protetor sentado no canto da minha sala é o
mesmo que espera Suzi, a prostituta, deixar seu trabalho no Golden Saloon – um night
club numa estrada de terra que liga qualquer lugar a lugar nenhum. Este milagre
da onipresença só pode ser compreendido dentro do caráter ficcional das crenças
que nos confortam. Não importa a verdade aqui. Importa que a vida comporta a
morte e apenas isto é o bastante para que desconfiemos da nossa autossuficiência.
Suzi e eu somos diferentes. Ela aprendeu na carne – de forma literal e
figurativa – a capacidade humana de impor ao seu semelhante uma forma abjeta de
luta pela vida.
Eu escrevo textos para uma revista de variedades e a minha
função é tornar glamorosa e bem sucedida a vida de Suzi, para que durmamos em
paz sob o olhar do anjo que guarda a nós todos. Não importa que Suzi esteja
estragada para a vida aos 26 anos no quarto imundo de um bar para machos, em
algum lugar do sudoeste. O que interessa é que eu e Suzi vivemos sob a vigília
do mesmo anjo. Saber se a conta vai fechar no final é o mistério que me
amedronta. E para o qual, Suzi não está nem aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário