quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MASSANAGEM

“Quer conversar sobre os projetos para o ano que vem?”.
Eu sabia que era mais que aquilo, meus planos nunca foram tão importantes assim.
Ela fez café, enquanto de uma cadeira na outra ponta da cozinha eu observava seu jeito, suas pernas, seu corpo, seu todo.
Eu perguntei se ela queria conhecer o passo de dança que eu havia inventado.
“Dois pra tudo?”
“Sim, serve pra qualquer estilo e cobre a ausência de técnica...”.
Sempre tive habilidade para as imposturas, mas todas com algum propósito nobre.
Ela colocou-se junto de mim, sua coxa direita resvalando em meu braço e se dispôs ao aprendizado, pedindo uma massagem no pescoço.
Varamos o dia entre frases desconexas, gemidos de longo alcance e massagens com terceiras intenções. E todos os passos de dança que tivessem os quadris como principio e fim.
Ella olhava a cidade, parada junto à janela da sacada. Perguntou-me se um dia os rios da cidade seriam azuis. Eu respondi que sim. E, extremamente interessado naquele seu momento de poesia, perguntei-lhe se conhecia meu ponto de vista sobre a Teoria das Cordas e a expansão do universo.
Ela voltou-se, entusiasmada. E me disse que talvez precisássemos de um final de semana para assuntos tão profundos e complexos. Feito.
É o que eu digo: tudo está na nobreza do propósito.