terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A PAISAGEM NA JANELA EM DIAS DE CHUVA.

Pode ser que passe tudo, junto com a chuva, as feridas. E que se movam os dias para tempos melhores. Que venha até mesmo o tédio pra quebrar estas horas de tormenta.
Chove sem parar, e junto um fluxo constante de memórias, velhas impressões. Enganosas, talvez. Dizem que a história real vai sendo substituida pelas lembranças ao longo do tempo. Restam fatos corrompidos e pouco confiáveis. Mas, talvez, mais poéticos que os originais. E que vão fechar na velha piada: Um dia ainda vamos rir de tudo isto.
Fico pensando quanto tempo eu já gastei olhando através de janelas. Desde aquela, com um pedaço da vidraça quebrada junta à pia da cozinha, onde eu me sentava e esperava até meu pai chegar, até esta sob um toldo de lona. E o que junta as duas pontas é o ritmo da chuva, pausado, constante, dolorido. A janela da casa do sítio onde passei várias noites sozinho e pensava nos filhos que eu tinha deixado pra trás, por medo de morrer, por medo de não ter um rumo, por uma tentativa de redenção. Pelo que jamais me perdoarei, conforme a sentença que a chuva descreve agora, ao bater no toldo.
Tudo vai andar amanhã independente de vontades ou impressões. Com chuva ou sem ela, tudo segue. Apenas que com o sol a paisagem na janela trás memórias mais alegres, algum tipo de alívio.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Junk Poetry

...Slowly you've made my fate,

While I saw life slide down the road,

You know things may change now or late,

Clouds will then come over things we told,

By some sort of grace, see, you will feel the taste,

When death, finally, relieve the load.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

E cortamos as falas

E cansamos a pele

Das camadas abertas

Dos tecidos amorfos
Das canseiras eternas

Dos que eram a fim
Dos jamais assim.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SIGA AQUELE COELHO.

Pode ser que você já tenha descoberto tudo e possa dizer aos teus filhos e a outros desamparados: "Eu tinha certeza que isto ia acontecer". Pode ser que alguns acreditem nesta tua sabedoria definitiva. Neste caso, eu apenas lamento: depois disto, apenas a morte.
Eu vivo na dúvida. Como o coelho mecânico na corrida de cães, é o incerto que me puxa, ou melhor, que me desanda para o futuro. Os tradutores conhecem a sina da busca da palavra perfeita, nenhuma jamais expressará o que ele deseja colocar ali, naquela hora, por alguma razão.
Por isto o olhar perdido, ausente e certas conversas que não guardo. Quando há tanto a ser compreendido, qualquer frase cheia de certeza me joga para a pista de corrida, no rastro do coelho programado para não ser alcançado.