terça-feira, 30 de março de 2010

E VAMOS...

Até onde eu sei, nada mudou. Continuo no velho compasso de espera, com aquela inacreditável esperança de que tudo vai dar certo no final. Eu sempre lidei com improbabilidades, ela mesma de alguma maneira infiltrada em meu futuro desde os primeiros tempos. Eu passo batido, tento desconhecer o assombro incomodativo que volta e meia se alinha comigo nestas andanças. Ele tem um sorriso cravado de canto, seu cartão de visitas com o qual tenta me impressionar. Mas seguimos e nem quero mais saber da extensão e do desenho do trajeto. Muda o tempo todo, némês?

sexta-feira, 12 de março de 2010

DIREITOS HUMANOS: "Fica à vossa conveniência, senhor".

Saiu na coluna da Monica Bergamo, na Folha de S. Paulo de hoje:

BRAÇOS DADOS 1
Filho do ditador Muammar Gaddafi, da Líbia, Saif Gaddafi mereceu deferência especial do presidente Lula e do governador de SP, José Serra. Os dois o receberam em audiência -Serra, na terça, no Palácio dos Bandeirantes, e Lula, na quarta, no escritório da Presidência da República, em SP. Detalhe: as audiências com o filho do ditador, solicitadas pela empreiteira Odebrecht, que ciceroneou Gaddafi no Brasil, foram secretas, ou seja, estavam na agenda extraoficial dos governantes.

BRAÇOS DADOS 2
Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, por sinal, acompanhou Gaddafi em vários compromissos, como um jantar com empresários na casa de Ana Paula Junqueira, em SP. Com obras em Trípoli, a construtora patrocina exposição de uma fundação de Gaddafi no Museu Afro Brasil, em SP.

PARA QUEM PODE
E Gaddafi, com viagem programada para Salvador, circula no Brasil a bordo de um Airbus particular.

Então tenho que deixar esta observação: A percepção do que é Ditadura, tanto pelos governos quanto pelos veículos de mídia (e isto é o mais estarrecedor)depende unica e exclusivamente de quais interesses estão envolvidos. Se há dinheiro para todos, sangue derramado e direitos violados são temas secundários.

DESEJOS OCULTOS.

Melissa mora na casa ao lado e todas as manhãs varre o quintal. E olha de canto de olho para o pombo gigante que finge dormir no beiral do sobrado vizinho.
Melissa sonha todas as manhãs em ter um rifle ao invés de uma vassoura. Ela sabe que o quintal não precisa ser varrido todos os dias, mas sabe, e sorri lá dentro, que seus desejos precisam ser regados todas as manhãs.

terça-feira, 2 de março de 2010

EU NÃO FALO DE POLÍTICA.

Há muito tempo desisti de discutir política. A desilusão que eu costumava ter em relação a este assunto devia-se ao comportamento dos políticos, ao seu total e absoluto descompromisso com a verdade ou a um mínimo de respeito para conosco, cidadãos. Porém, mesmo assim eu gostava de conversar sobre política, de trocar idéias e pensar de que forma poderíamos lutar para melhorar nosso caótico sistema. Hoje não sinto a menor vontade de falar disto e de nem mesmo pensar a respeito. Sabe por que? Porque não suporto o "pensamento bipolar" (Marcelo Tas) que vejo por aí. Desapareceram as nuances, os meios termos, as variantes, os vários aspectos de um mesmo assunto, a possibilidade de se gostar de alguma coisa e desgostar de outra na mesma pessoa. Ou se é perfeito ou imperfeito, ou se é situação ou oposição, ou se é "sim" ou "não" absolutos diante de fatos que simplesmente não possuem divisões claras. O que era paixão hoje virou burrice. Acredita-se em tudo que sirva ao momento, mesmo que as evidências digam o contrário. E a internet transformou-se no veículo ideal para a manada repercutir tudo o que pareça verdade e preencha seu espaço de pensamento hoje ocupado pela preguiça. Eu penso que o surgimento desses grupos bipolares e seus seguidores se deve ao comportamento absolutamente esquizofrênico dos meios de comunicação. Os grandes conglomerados de mídia, em geral familiares, estão todos amarrados com o governo por empréstimos que já tiveram ou esperam ter via BNDES. Não se iludam, é assim que funciona e sempre funcionou o empresariado brasileiro, liberal no discurso, mas apegado ao Estado para garantir a continuidade dos seus negócios. Assim, os grandes veículos de informação vivem constantemente em cima do muro, tentando agradar os dois lados. Os bipolares vieram então, através de blogs hospedados e sustentados pelos mesmos meios de comunicação, a ocupar um vazio (no caso de algumas pessoas, vazio mesmo)carente de um discurso que pudesse ser imediatamente assimilado sem a necessidade de pensar. Dai para o radicalismo vai menos de um passo. Um lado prega seus avanços como se tudo tivesse acontecido de forma isolada, como se nada tivesse sido feito antes, nenhuma semente tivesse sido plantada, como se não precisassem de mais ninguém, numa manifestação de arrogância sem limites. E enterrados até o pescoço na corrupção, exatamente como aqueles a quem combatiam com seu discurso moralista. O outro lado fala em ditadura, em falta de liberdade de expressão ao mesmo tempo em que se expressam livremente com ofensas grosseiras contra seus opositores. Talvez a impotência e a incompetência para promover mudanças através do voto levem esse povo a buscar caminhos "alternativos", a tentativa de colar no outro a preferência por aquilo que eles mais gostam, a ditadura que apoiaram e serviram e da qual sentem saudades neste momento de fraqueza política. Pregam a livre expressão (vocês estão se expressando, caralho, isto é liberdade de expressão!) enquanto querem impôr uma forma única de pensamento, isto é, quem não estiver do seu lado só pode estar errado. Querem negar ao outro o princípio básico da democracia, o direito a livre escolha.
Por isto não converso mais sobre política, não tenho mais paciência para a burrice.