Há muito,
muito tempo atrás, numa época em que a disputa do mundo se dava no campo, as
famílias precisavam de mão de obra para arar, plantar, cultivar e colher. Daí a
grande quantidade de filhos.
Era um tempo difícil e de pouca compreensão do
mundo. As grandes distâncias impossibilitavam o conhecimento de outros povos,
outras culturas e, portanto, não existia o intercâmbio de informações.
A rotina
era simples e com um objetivo claro: vencer sem sutilezas. Um mundo desprovido
de discussões “tolas e acadêmicas” como direitos individuais, de classe, de
gênero e de raça. Um mundo movido à força.
Os filhos mais fracos eram vistos
com desconfiança pelos pais rigorosos – um tempo de gravidez e expectativas
desperdiçadas com uma capacidade de trabalho limitada e sem futuro.
Já que estavam ali, esses fracos eram criados
mais ou menos como os outros, porém sem a aprovação dada aos mais fortes, os
que saiam para o trabalho duro do campo, os que suportavam horas de enxada sob
um sol impiedoso, os que desciam o morro lado a lado com os mais velhos, os embrutecidos
embrutecendo os embrutecedores de amanhã.
Os fracos cresciam convivendo com as
chacotas de pais, irmãos, vizinhos e quem mais quisesse – era um tempo difícil,
toda diversão era bem vinda.
Esses seres sem futuro acabavam se ajeitando no
mundo, graças à posição na fila garantida por Deus: Os últimos serão os
primeiros. Casavam-se, tinham filhos. Embrutecidos pelas razões inversas, jogavam nos filhos as mesmas regras, os
mesmos costumes, dando seguimento a uma sociedade fundamentada no custo-benefício.
O amor, produto raro, era reservado aos que fizessem por merecer, os bem-aventurados
fortes e resistentes premiados por Deus, Este sempre invocado para dar
legitimidade a toda forma de brutalidade.
Mas isto foi há muito, muito tempo atrás. Hoje todo mundo sabe que essas coisas não existem mais...
O curioso é que volta e meia encontramos pessoas
que enaltecem a violência como forma válida de educação. Incapazes de decifrar o mundo em que vivem, levantam os
braços aos céus por terem sido doutrinadas desta forma.
Não compreendo. Deve
ser resultado de algum elo quebrado viajando no tempo.
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