quarta-feira, 14 de julho de 2010

SOBRE UM RÁPIDO ENCONTRO.

Pode ser que um dia eu entre novamente naquele trem. Aquele, que vai para o oeste e que tinha os bancos revestidos com courvim verde desgastado. Eu vou querer sentar na janela quando chegar naquela estação no meio do caminho em que você me esperava. Lembra o quanto rimos, com aquela nossa risada de 17 anos, quando você me disse que tinha medo do futuro e eu respondi que ele tinha acabado de chegar naquele trem? Eu era bom com palavras e a vida parecia bem mais leve. Ou fui eu que demorei pra chegar no guichê de informações, quando a ficha cai e a dúvida e o medo se estabelecem. Você estava um passo à minha frente, já tinha passado por lá, daí seu temor.
Ontem reli uma carta tua, escrita anos depois, quando você estava de saída para o Vale das Sombras, aquele lugar que você dizia temer, mas que agora parecia tão pronto e óbvio. Você dizia que gostava da sonoridade do nome do lugar, Vale das Sombras, e lembrava de como eu queria conhecer o Deserto de Nevada, pela mesma razão, pela sonoridade do nome.
Era uma carta breve, na medida do tempo que durou nossas horas naquele trem. Breve e intensa e com tanta coisa em tão poucas palavras (o fim iminente daquela viagem de trem nos deu a capacidade de concisão).
Pode ser que um dia eu entre novamente naquele trem. Aquele, que vai para o oeste e que leva pessoas para a inesperada experiência e cicatrizes dos breves encontros.

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