terça-feira, 2 de março de 2010

EU NÃO FALO DE POLÍTICA.

Há muito tempo desisti de discutir política. A desilusão que eu costumava ter em relação a este assunto devia-se ao comportamento dos políticos, ao seu total e absoluto descompromisso com a verdade ou a um mínimo de respeito para conosco, cidadãos. Porém, mesmo assim eu gostava de conversar sobre política, de trocar idéias e pensar de que forma poderíamos lutar para melhorar nosso caótico sistema. Hoje não sinto a menor vontade de falar disto e de nem mesmo pensar a respeito. Sabe por que? Porque não suporto o "pensamento bipolar" (Marcelo Tas) que vejo por aí. Desapareceram as nuances, os meios termos, as variantes, os vários aspectos de um mesmo assunto, a possibilidade de se gostar de alguma coisa e desgostar de outra na mesma pessoa. Ou se é perfeito ou imperfeito, ou se é situação ou oposição, ou se é "sim" ou "não" absolutos diante de fatos que simplesmente não possuem divisões claras. O que era paixão hoje virou burrice. Acredita-se em tudo que sirva ao momento, mesmo que as evidências digam o contrário. E a internet transformou-se no veículo ideal para a manada repercutir tudo o que pareça verdade e preencha seu espaço de pensamento hoje ocupado pela preguiça. Eu penso que o surgimento desses grupos bipolares e seus seguidores se deve ao comportamento absolutamente esquizofrênico dos meios de comunicação. Os grandes conglomerados de mídia, em geral familiares, estão todos amarrados com o governo por empréstimos que já tiveram ou esperam ter via BNDES. Não se iludam, é assim que funciona e sempre funcionou o empresariado brasileiro, liberal no discurso, mas apegado ao Estado para garantir a continuidade dos seus negócios. Assim, os grandes veículos de informação vivem constantemente em cima do muro, tentando agradar os dois lados. Os bipolares vieram então, através de blogs hospedados e sustentados pelos mesmos meios de comunicação, a ocupar um vazio (no caso de algumas pessoas, vazio mesmo)carente de um discurso que pudesse ser imediatamente assimilado sem a necessidade de pensar. Dai para o radicalismo vai menos de um passo. Um lado prega seus avanços como se tudo tivesse acontecido de forma isolada, como se nada tivesse sido feito antes, nenhuma semente tivesse sido plantada, como se não precisassem de mais ninguém, numa manifestação de arrogância sem limites. E enterrados até o pescoço na corrupção, exatamente como aqueles a quem combatiam com seu discurso moralista. O outro lado fala em ditadura, em falta de liberdade de expressão ao mesmo tempo em que se expressam livremente com ofensas grosseiras contra seus opositores. Talvez a impotência e a incompetência para promover mudanças através do voto levem esse povo a buscar caminhos "alternativos", a tentativa de colar no outro a preferência por aquilo que eles mais gostam, a ditadura que apoiaram e serviram e da qual sentem saudades neste momento de fraqueza política. Pregam a livre expressão (vocês estão se expressando, caralho, isto é liberdade de expressão!) enquanto querem impôr uma forma única de pensamento, isto é, quem não estiver do seu lado só pode estar errado. Querem negar ao outro o princípio básico da democracia, o direito a livre escolha.
Por isto não converso mais sobre política, não tenho mais paciência para a burrice.

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