segunda-feira, 6 de outubro de 2008

MORRO NA PRAIA, MAS VIVO.

Eu ando tão puto com certas coisas que tá muito difícil escrever algo que se pareça com poesia. Ninguém tem nada com isto, é ou não é? Eu sei que pago o preço pelas escolhas que fiz e compete a mim administrar a merda toda. O problema é que as vezes parece que tá ficando tudo tarde demais e que não vai dar tempo. Eu faço meus planos e não me envergonho deles. Eles me ajudam a botar alguma ordem no caos, ele que volta e meia me dá a sensação de estar sempre no mesmo lugar. Eu me confundo, sim. E erro de montão. E refaço tudo e penso demais. E muito do que penso fica lá mesmo, para o bem de todos.
Há um tempo eu consegui colocar um projeto de filme nas leis de incentivo. Eu, como todo cara que se mete com as artes, tenho um pé fora do chão e muitas vezes me iludo pensando que algo vai ficar mais fácil. Então deixa eu dizer: A grande maioria das pessoas não tem a menor idéia do que sejam as leis de incentivo, não têm a menor noção do problema de fazer cinema aqui, mas o pior não está aí. Ninguém é obrigado a conhecer essas leis entre tantas outras mais comuns que somos obrigados a seguir. O terrível é constatar, mesmo a verdade estando aí o tempo todo, é que a grande maioria não vai ao cinema, ao teatro, não lê um livro (falo de literatura), não conhece nada além de casa-trabalho-casa-novela-cama-casa-trabalho...Bom, problema meu, é ou não é? Pois é, se vamos ficar no meu projeto sim, o problema é meu. O caso é que a coisa toda é triste demais. E não tô falando de periferia aqui não, hein! As pessoas com quem tenho falado em busca de patrocínio são pessoas do Campo Belo, Brooklin Novo e outros bairros do mesmo porte. Pessoas supostamente cultas, supostamente bem informadas, supostamente ligadas a tudo que acontece e que, supostamente, deveriam saber da importância da arte como ferramenta de reflexão (arte é educação, ô povo!) Como é que se vai tirar essa gente da ignorância absoluta se o cara que você visita, que tem um comércio, que fala com o público o tempo todo, que está dentro de um bairro bem frequentado, não só não tem a menor noção do que você está falando como não está interessado em entender? Além do fato de que alguns deles ainda acham que a arte, qualquer arte, é coisa de vagabundo ou de malandro. Outro dia, um dos sócios da Padaria Santa Marcelina, ali na Vieira, me destratou porque dentro da sua profunda ignorância (ou ele é apenas um mão-de-vaca mesmo) o meu projeto deveria ser parte de algum plano de golpista ou coisa do tipo. Isto porque nos papéis que eu deixo com as pessoas encontram-se todas as informações possíveis para que o interessado possa verificar a veracidade da coisa. Além de estar lá meu endereço, telefone, currículo, enfim, coisa de malandro, não é?
Eu vou continuar insistindo. Já pensei em desistir disto tudo e correr atrás da minha aposentadoria e me dedicar a escrever a parar de ficar nervoso. Mas não consigo. Talvez eu me ache importante demais, talvez eu pense que as pessoas precisam realmente ler e ver o que eu tenho a mostrar, ou talvez seja mesmo uma questão pessoal, uma questão de escolha, um caminho que eu me apontei e do qual eu não possa fugir. Vou continuar insistindo. Se eu tiver que morrer na praia não vai ser sem luta, vai ser pelas coisas que acredito, apesar da descrença geral.
E em tempo: As leis de incentivo, como o próprio nome diz, foram criadas para incentivar as empresas a apoiar a cultura. O patrocinador, Pessoa Física ou Jurídica, pode abater do IR a pagar qualquer apoio financeiro dado a um projeto cultural registrado nessas leis. Em linhas gerais é isto, o patrocinador não tira nada do bolso e ainda ganha uma série de outros benefícios. Mesmo assim é essa dureza que eu descrevo aí em cima.

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