domingo, 10 de agosto de 2008

ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA.

Um dia você entrará numa sala e ficará diante de alguém maior que você. O outro do lado de lá da mesa estará acompanhado de um outro menor que fará as anotações.
Depois das formalidades iniciais, o homem grande acenderá um cigarro e seus olhos, varando a cortina de fumaça, dirá sem rodeios “estou esperando”. Você terá esquecido por alguns instantes o teu discurso ensaiado ao fixar-se no anel de pedra negra na mão esquerda do homem e no rosto cheio de certezas, ainda, do jovem com o bloco de anotações. E agora sua mão trêmula puxa da sua velha pasta de couro uma planilha de custos e um plano detalhado de trabalho.
O homem perceberá sua incerteza pela maneira que você lhe esticou o cartão de visitas, ele que leu todos os livros sobre a linguagem do corpo. Uma tolice na qual você nunca acreditou. Por um instante você olhará a paisagem formada pelo topo dos edifícios da cidade, os picos mais altos ainda cobertos pela névoa da manhã. Um avião passará pela fachada espelhada de um edifício ao lado. E por uma razão que só você sabe, uma coisa absolutamente inatingível e inalcançável a qualquer estudioso da alma humana, você abrirá um sorriso inesperado e fora dos códigos de medo das grandes salas de reunião. O garoto olhará para o chefe a procura de uma dica de conduta, enquanto aquele, depois de vasculhar na memória todos os livros que leu, sorrirá de volta, meio incomodado. E você dirá, a beira de uma gargalhada: “E eu que pensava que tinha medo de altura!”.

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