segunda-feira, 18 de julho de 2011

OS ANJOS QUE VIVEM POR AÍ.

Anjos andam por desertos, terras geladas, crateras de vulcões, cantos extremos do mundo e também pelas esquinas mais ordinárias das cidades. Nelas nos encontramos quando tudo se fecha em becos, frestas e a vida parece estreitar-se. O fim próximo, a ausência de ilusões, a incapacidade de compreender.
No pontilhão sobre o rio, o anjo me olha como quem já viu de tudo e pacientemente me pergunta o que quero. Eu olho para o seu conjunto, tão comum como o mais comum de nós: uma camiseta branca com nódoas antigas, uma calça jeans gasta nas dobras naturais do corpo e levemente rasgada nas barras que sobram sobre botas de couro encardidas. Ele levanta seus braços magros e compridos e me chama para um abraço porque meu tempo de resposta foi longo demais. Eu me conforto no meio daquele corpo que parece meu pai, meu irmão, alguém me ama mais do que eu mesmo. Por instantes eu me esqueço da vida, vou pelos mesmos desertos, pelas mesmas terras geladas, pelas mesmas crateras de vulcões e pelos cantos extremos do mundo, meio que sozinho, meio que envolto por uma paz reconfortante e uma voz que me diz que tudo vai ficar bem. E pela mão de um anjo eu ganho mais um tempo de serenidade, certo de que nem tudo pode estar errado sempre. Nem eu, nem os fatos, nem a vida.

2 comentários:

Monica disse...

Adorei e acredito que "tudo vai ficar bem".Muito Lindo!!!

Jayme José do Lago disse...

Olá, Luiz. Eu também vejo mudança de dimensão, como viagem da imaginação. Parabéns pela criatividade em texto preciso e brilhante. Abs. Jayme